Pandemias são inevitáveis? O que o coronavírus pode nos dizer
Entrevista do podcast Altamar com Nurith Aizenman, correspondente NPR (Washington DC, EUA) de Global Health and Development, publicada originalmente no Brink News
Desde que a palavra "coronavírus" entrou no vocabulário global há algumas semanas, o vírus tem tido um alcance impressionante.
Dezenas de milhares têm contraído o novo vírus, mais de mil morreram e dezenas de países reportaram pacientes infectados dentro de suas fronteiras - quarentenas solicitadas, restrições de viagens e regressos ao redor do mundo. Máscaras estão sumindo das prateleiras enquanto o medo ronda o chamado COVID-19. Cadeias de suprimento e o setor de turismo estão atingindo o mesmo nível, enquanto o banco central da China investiu USD 243 bilhões no sistema financeiro para sustentar o crescimento enfraquecido.
A correspondente da Rádio Pública Nacional (Washington DC, EUA) para saúde global e desenvolvimento, Nurith Aizenman, participou do podcast Altamar, com Peter Schechter e Muni Jensen, para comentar as implicações geopolíticas do coronavírus e discutir o que pode ser feito para prevenir pandemias futuras. Aizenman, que está cobrindo o vírus diariamente desde que o surto começou, foi repórter do The Washington Post e editora do The New Republic.
A situação está mudando rapidamente, mas Aizenman pontua que, por enquanto, o vírus ainda se concentra na China: “A maior parte dos casos está na China. É verdade que já existem centenas de casos fora do país, mas há um número muito maior, com dezenas de milhares, na China”.
Ainda há questões não respondidas sobre a gravidade e alcance da doença na China, especialmente no que diz respeito a que o governo “deveria ser um pouco mais comunicativo com o resto do mundo do que foi com a população de Wuhan sobre o risco no seu estágio inicial, que disseminou uma grande quantidade de dúvidas e questionamentos sobre o que foi divulgado até agora”.
Há muita especulação sobre o porquê de a doença ter começado na China.
Muitos cientistas apontaram os mercados da China, em que comida e animais selvagens estão muito próximos. De fato, a grande população chinesa de morcegos, um vetor para coronavírus e outras doenças, pode ter encontrado em Wuhan o local perfeito para espalhar o vírus primeiramente.
Enquanto o coronavírus tem dominado as manchetes internacionais desde que as primeiras notícias surgiram, os mercados financeiros não registratam grandes alterações - ainda. Mas as cadeias de suprimentos foram afetadas, viagens foram canceladas e o turismo foi impactado. Aizenman diz que ainda é muito cedo para fazer quaisquer prognósticos do cenário econômico: "É difícil saber. Estamos começando a ver um crescimento, o país inteiro passou esse período das festividades do Ano Novo Chinês, mas agora ele acabou. A expectativa é de que se inicie o crescimento real agora".
Uma lição a ser aprendida com o surto de coronavírus é que os países precisam ser mais proativos em identificar e se preparar para ps vírus que podem ser transmitidos d animais para humanos: "Há uma maior garantia em tentar identificar proativamente quais vírus que podem ser transmitidos dos animais e que se tornariam um problema, aqueles que podemos rapidamente responder e talvez verificar a existência de vacinas que possam funcionar e não precisaremos inventar a roda".
Aizenman sinaliza que outros países deveriam ver o cornavírus como um aviso para se preparar para surtos similares: “Parece que a coisa mais importante é reconhecer que esses eventos não são fruto do acaso, é perfeitamente previsível que essas coisas possam acontecer. Na medida em que aceitamos que é assim que funciona,
A medida que acreditamos como isso funciona e podemos olhar para os verdadeiros vírus potenciais, qual projeto podemos desenvolver, que tipo de vacinas quase completas já existem que vão poder ser aplicadas quando eles surgirem?" Se os países ao redor do mundo reforçarem suas respostas às pandemias, poderíamos combater o próximo coronavírus - ou em todo caso, estaríamos no caminho.
Altamar é um podcast político global apresentado pelo ex-SVP Atlantic Council, Peter Schechter e o premiado jornalista Muni Jensen. Para ouvir o episódio completo com Nurith Aizenman, clique aqui.