Como cuidar primeiro das pessoas enquanto cresce o surto do coronavírus

Por Renata Elias (vice-presidente Marsh) e Mary Kay O’Neill (sócia Health and Benefits Mercer)/Brink News
Pedestres usando máscaras faciais como uma medida preventiva atravessam uma rua em Hong Kong, após um surto de coronavírus que teve início na cidade chinesa de Wuhan.
O surto em andamento do novo coronavírus (2019-nCov) dominou as manchetes e prendeu a atenção do público durante as últimas semanas. E isso por um bom motivo: Milhares de casos e centenas de mortes causadas pelo vírus foram confirmados em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, que declarou o surto como uma emergência pública de interesse internacional.
Embora a esmagadora maioria dos casos comunicados tenha ocorrido na China, foram relatados casos em vários outros países, inclusive EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha e Japão. Isso alimentou as preocupações de que a doença poderia tornar-se futuramente uma epidemia global ou pandemia.
Diante desse risco, é importante que as empresas tomem medidas para se planejar quanto à possibilidade de que o surto agrave as implicações potenciais nas receitas, operações, clientes, fornecedores e, especialmente, nos colaboradores, protegendo-se disso. Os empregadores devem fazer de sua força de trabalho uma prioridade máxima e trabalhar para proteger a sua saúde e manter todos eles bem informados.
Ao fazer isso, todavia, os empregadores devem evitar uma ação exagerada ou a implantação prematura de certas medidas, o que poderia complicar a sua resposta e minar os seus relacionamentos com os colaboradores.
Entendendo o vírus
À medida que as autoridades de saúde pública trabalham no desenvolvimento de medidas preventivas e curativas, é importante que os empregadores tenham ciência da natureza do vírus e compartilhem as informações com os colaboradores.
O novo coronavírus em geral causa sintomas leves a moderados das vias respiratórias superiores em indivíduos saudáveis, incluindo dificuldade para respirar, febre, tosse e fadiga; esses sintomas podem ser facilmente confundidos com aqueles de um resfriado ou gripe comum. O período de incubação do vírus varia de dois a 14 dias. Acredita-se que a disseminação se dá pelo contato próximo com pessoas que apresentam tosse e espirros.
Casos de transmissão de humano para humano fora da China – inclusive um caso relatado nos EUA – ainda são poucos, mas isso pode mudar ao longo do tempo.
Planejamento para a pior das hipóteses
Levando-se em conta as ameaças à saúde pública nos últimos anos – desde o Ebola, a Zika e outros patógenos –, muitas empresas já refletiram bastante quanto à sua resposta potencial a surtos, epidemias e pandemias. Para aquelas que ainda não fizeram isso, o primeiro passo é reunir um grupo de planejamento dedicado ao surto atual ou para responder de forma mais ampla à epidemia/pandemia. Em teoria, esse grupo pode se integrar à gestão de crise existente, às estruturas de saúde e segurança do colaborador e/ou aquelas responsáveis pela continuidade dos negócios.
Em vez de esperar que as perguntas sejam respondidas, esse grupo pretenderá se antecipar e abordar de modo proativo as preocupações da alta administração sobre um surto continuado – e que vem piorando potencialmente. Um foco significativo para o grupo seria as considerações dos colaboradores, incluindo o que segue.
Saúde e higiene do colaborador
Os colaboradores devem ser informados sobre as recomendações da OMS e de outras autoridades de saúde para ajudar na prevenção e limitação da disseminação do vírus. Essas recomendações incluem:
- Usar a parte interna de um cotovelo flexionado ou um tecido quando espirrar ou tossir
- Lavar as mãos frequentemente, inclusive depois de tossir, espirrar ou tocar superfícies já tocadas por terceiros
- Evitar o contato da mão na boca ou da mão no nariz
- Evitar contato próximo com alguém que apresente os sintomas
- Receber vacinação contra gripe para minimizar a confusão de sintomas
Os colaboradores que viajaram recentemente para a província de Hubei, local de origem do surto, ou que estiveram expostos a uma pessoa nessa condição, devem ser solicitados a se afastar do local de trabalho durante 14 dias e assegurar que os provedores de assistência médica monitorem e avaliem quaisquer sintomas. Os colaboradores que tiveram contato com pessoas infectadas devem monitorar a sua temperatura duas vezes por dia durante um período de 14 dias e observar quaisquer sintomas que possam desenvolver. Eles também devem entrar em contato com seus provedores de assistência médica em busca de instruções.
Os colaboradores devem saber que a alta administração está monitorando a disseminação do coronavírus e pronta para aumentar as ações de resposta quando necessário.
Os colaboradores que apresentem sintomas, mas que não tenham viajado para a China e não tenham tido contato próximo com pessoas infectadas, podem estar sofrendo de uma gripe ou um resfriado comum. Esses colaboradores devem buscar orientação dos provedores de assistência médica enquanto evitam o contato com outras pessoas.
Os empregadores devem comunicar aos colaboradores as opções da telemedicina que estejam disponíveis para eles; consultas com médicos via telemedicina podem ajudar a minimizar os temores dos colaboradores sobre visitas a salas de emergência de hospitais e outras instalações de assistência médica onde geralmente ocorre a disseminação dos vírus. Caso ocorra um agravamento no surto, os empregadores também devem pensar em disponibilizar desinfetantes para as mãos à base de álcool e máscaras faciais – que já se comprovaram eficazes na redução da disseminação de vírus – e encorajar todos os colaboradores que apresentam quaisquer sintomas a ficarem afastados dos locais de trabalho.
Licença parental e licença médica pagas
É imprescindível que os empregadores levem em consideração não apenas as necessidades de seus colaboradores, mas também aquelas de suas famílias. E é importante que os colaboradores se sintam apoiados por seus empregadores em um tempo de crise.
Durante um surto, epidemia ou pandemia – e sem as garantias certas dos empregadores – os colaboradores podem ficar tão preocupados em perder sua fonte de renda que decidam continuar a trabalhar mesmo quando eles próprios ou membros da sua família caem doentes. Em caso de agravamento do surto, os empregadores devem considerar a expansão ou a ampliação das políticas relacionadas a licença parental e licença médica pagas. Essas mudanças potenciais, contudo, devem ser contrabalanceadas por preocupações quanto ao absenteísmo do colaborador e à produtividade reduzida.
Trabalho remoto e viagens
Vários governos e autoridades de saúde pública – inclusive nos EUA e no Reino Unido – atualmente recomendam evitar viagens desnecessárias para a China e todas as viagens para a província de Hubei; a Rússia, nesse meio tempo, fechou a sua fronteira terrestre com a China. Quaisquer colaboradores que precisem viajar para a região devem estar cientes das precauções recomendadas pela OMS, inclusive mantendo uma boa higiene, comendo carnes e ovos muito bem passados e evitando o contato com animais vivos.
No caso de disseminação do vírus, os empregadores podem querer considerar a interrupção de todas as viagens de negócio. Além disso, permitir que os colaboradores trabalhem em casa – mesmo quando não são sintomáticos – e viabilizar reuniões virtuais são providências que poderiam ajudar a limitar a disseminação do vírus e atenuar os temores do colaborador sobre a sua exposição a ele.
Ao tomar essas decisões, os empregadores devem levar em conta os impactos operacionais – por exemplo, se as redes privadas virtuais e outros sistemas de tecnologia podem acomodar mais trabalhadores remotos e se os negócios críticos podem ser conduzidos sem a comunicação presencial.
Assumindo uma abordagem moderada
A essa altura, os empregadores deverão estar fazendo perguntas críticas e levando em conta as respostas potenciais. E na China, de modo específico, o volume de casos de coronavírus relatados e os temores sobre a sua disseminação já provocaram medidas extremas por parte de empregadores, autoridades de saúde e autoridades públicas. Elas incluem quarentenas, rigorosas restrições de viagem e fechamento temporário de muitas empresas.
Dada a preocupação justificada quanto aos impactos operacionais potenciais e o bem-estar de seus colaboradores, o instinto inicial para algumas empresas multinacionais pode ser aprovar tais medidas de imediato e globalmente. Mas para a maioria das organizações – e em muitas áreas geográficas – agora não é hora para se reagir de forma exagerada.
Os empregadores devem estar cientes de que, no início de fevereiro de 2020, parece ser pequena a probabilidade de uma pessoa saudável que não tenha visitado recentemente a China ou que não tenha tido contato próximo com alguém com o coronavírus contrair a doença. E a tomada de medidas súbitas e visíveis muito cedo – como ordenar que todos os colaboradores passem a trabalhar em casa – poderia enviar a mensagem errada para eles.
Os grupos de planejamento do coronavírus ou de epidemias/pandemias deverão, então, pensar com atenção como e sob que condições devem ativar os elementos de seus planos. Esses grupos devem estabelecer critérios precisos – confiando na orientação dos governos e das autoridades de saúde pública – para o início da implantação de políticas e procedimentos específicos. Por exemplo, pode ser apropriado para as empresas distribuir máscaras faciais e ordenar distanciamento social e trabalho remoto quando ocorrer um caso confirmado envolvendo um colaborador ou um membro familiar de um colaborador.
A comunicação é essencial
Enquanto se preparam para uma possível ação caso o surto continue, os grupos de planejamento devem se concentrar na comunicação com a alta administração e os colaboradores. Grupos de trabalho devem repassar para os altos executivos e gerentes as informações e insights para ajudá-los a tomar decisões confiáveis que abordem as necessidades operacionais e garantam o bem-estar dos colaboradores.
Enquanto isso, os colaboradores devem saber que a alta administração está monitorando a disseminação do vírus e pronta para aumentar as ações de resposta quando necessário. O fornecimento de informações para os colaboradores – sobre o andamento do surto, as respostas dos empregadores e os esforços dos governos e das autoridades de saúde pública para o seu combate – e o uso do tom correto nas comunicações podem trazer conforto aos colaboradores, corrigir os conceitos equivocados sobre o novo coronavírus e limitar o temor e a ansiedade.