O “Belt and Road” da China Chega à América Latina
Andre Dabus Diretor de Infraestrutura, Power & Utilities na Marsh Brasil e Meghna Basu Analista de Pesquisa na Marsh & McLennan Insights/ Brink News
A ex-presidente chilena Michelle Bachelet encontrou-se com o primeiro ministro chinês Li Keqiang nos bastidores do “Fórum do Belt and Road” em Pequim em 14 de maio de 2017.
Nos últimos 10 anos, o investimento chinês na América do Sul acelerou drasticamente aumentando em mais de 480% entre 2008 e 2018, em comparação com apenas 89% no âmbito mundial. Mais da metade dos investimentos da China na América do Sul foram destinados a projetos de infraestrutura - particularmente em energia e transporte.
Com taxas de poupança persistentemente elevadas e limitadas oportunidades de investimento no âmbito local, a China tornou-se a terceira maior fonte mundial de investimento direto estrangeiro depois dos EUA e do Japão. Esse investimento tem crescido cada vez mais na América Latina e no Caribe (LAC) desde 2008, quando o governo chinês lançou seu primeiro termo de politica sobre a região LAC .
Com um amplo mandato para a cooperação de longo prazo, a estratégia criou laços profundos de comércio e investimento entre a China e os países da região LAC. Em 2018, o investimento chinês na América do Sul representou mais de um décimo do investimento total chinês no exterior.
A China hoje é o Maior Credor da América Latina
Os empréstimos chineses para a América Latina aumentaram mais de 20 vezes entre 2007 e 2017, totalizando mais de US$150 bilhões, superando os empréstimos similares do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do Banco Mundial. Aproximadamente 88% desses empréstimos foram destinados a projetos de infraestrutura.
Essas tendências fizeram da China o maior credor da região na última década - superando as contrapartes internacionais e latino-americanas.
Anexo: Principais Credores Selecionados para a América Latina (2008-2018, em bilhões)

O “Belt and Road” Chegam à América Latina
O envolvimento chinês na região está sendo cada vez mais ativo por meio da “Belt and Road Initiative” (BRI), uma ambiciosa campanha global para desenvolvimento de infraestrutura e investimentos chineses, com foco na redistribuição da riqueza global e desenvolvimento de novas áreas da economia.
Embora a América Latina não tenha sido incluída nas fases iniciais do BRI, a China lançou um convite aberto aos países da região LAC para participar do BRI no início de 2018. O Panamá se tornou o primeiro país latino-americano a se unir em novembro de 2017, e muitos outros já aderiram. Um importante país que aderiu recentemente ao grupo dos países latino-americanos do BRI é o Peru - o quinto maior mercado da América Latina para investimentos em infraestrutura - que assinou com o BRI em abril de 2019.
Até maio de 2019, 19 territórios da região LAC assinaram documentos indicando a cooperação com a BRI. Dos seis principais mercados de infraestrutura da América Latina (Brasil, México, Colômbia, Argentina, Peru e Chile), apenas Peru e Chile aderiram formalmente ao BRI, enquanto os outros países como o Brasil, continuam recebendo investimentos chineses significativos sem acordos formais com BRI.
Tabela: Países da região LAC e a BRI

Preenchendo o espaço deixado pelas investigações da operação lava jato
Conforme abordamos no estudo sobre Bankability through the Lens of Transparency , muitas empresas e investidores estabelecidos na região optaram por afastar-se dos projetos de infraestrutura na região criando espaço para que as empresas chinesas ocupem seu lugar.
Porém, a atração do investimento chinês na região depende da melhor distribuição de riscos, dentre eles: ambientais, sociais e de governança que podem afetar os projetos de infraestrutura chineses na América Latina . Na Argentina, a construção de barragens hidrelétricas em Santa Cruz começou sem uma avaliação de impacto ambiental resultando na interrupção do projeto pelo Supremo Tribunal devido a preocupações ambientais.
Os planos de refinaria de petróleo da Sinopec em Moín, na Costa Rica, enfrentaram obstáculos institucionais semelhantes: a secretaria nacional de meio ambiente do país rejeitou a primeira avaliação do projeto devido a omissões questionáveis, retardando o progresso do projeto.
Projetos de infraestrutura chineses também enfrentaram oposição popular. O projeto hidrelétrico de Rositas, na Bolívia, por exemplo, não conseguiu superar a oposição das comunidades locais ao deslocamento de suas terras. O projeto já foi adiado várias vezes sem resolução à vista.
No México, um grande projeto de ferrovia de alta velocidade entre um consórcio chinês e o governo mexicano foi cancelado, em parte devido ao clamor público por denúncias de irregularidades relacionadas ao consórcio e indivíduos relacionados à administração mexicana.
Trabalhando com o BID
No entanto, as colaborações dos investidores chineses com bancos multilaterais de desenvolvimento da região, como o BID, ajudarão a mitigar esses riscos. O BID trabalhou com a Associação Internacional de Empreiteiros da China (CHINCA), por exemplo, para criar um conjunto de princípios para a infraestrutura sustentável na região da LAC. A CHINA e o BID estão prestando especial atenção ao investimento e à construção de infraestrutura sustentável e estão empenhados em permitir uma versão aprimorada do envolvimento chinês na região.
À medida que a China busca expandir os passos da “Belt and Road Initiative” e fortalecer os laços com a América Latina, parcerias como essas serão fundamentais para garantir investimentos regionais estáveis de longo prazo.